Dilma Rousseff participou ontem da posse de Joaquim Barbosa na
presidência do STF de cara amarrada. A feição da presidente contrastou com o
clima de saudação geral dos brasileiros à nova fase que se espera para o país a
partir da condenação da Justiça aos mensaleiros. Mas não é só ela que se mostra
contrariada: com alguns de seus principais líderes prestes a ir para a cadeia,
os petistas em geral estão loucos para retaliar.
Desde que o julgamento do mensalão começou a caminhar para o fim, com a
condenação e a definição das penas dos principais réus, o PT já ensaiou vários
movimentos de revide. Mas logo os abortou para evitar maiores polêmicas antes
que todas as decisões atinentes ao caso sejam tomadas pelos ministros do
Supremo.
Mas a comichão do protesto não dá trégua. E se manifesta de várias
maneiras: no espúrio relatório final da CPI do Cachoeira, produzido sob
encomenda de Lula e de gente como José Dirceu; nos atos de desagravo aos
mensaleiros que entidades aparelhadas como a UNE e a União da Juventude
Socialista (UJS) prometem fazer nas próximas semanas; e mesmo nas plenárias nas
quais condenados como João Paulo Cunha pretendem se defender junto à militância.
São atos de uma mesma peça: a ladainha do PT de que é vítima das
"elites", da "imprensa burguesa", de
"justiceiros" que acusam e condenam sem provas. O enredo é velho e
batido, mas o perigo está na manipulação que os partidários dos mensaleiros fazem
de instrumentos caros à democracia, como as comissões parlamentares de
inquérito, e no ataque reiterado às liberdades civis, do qual a imprensa é o
alvo mais recorrente.
Há uma evidente articulação dos petistas para desacreditar as
instituições. Se alguma delas lhes trai a vontade, tomem-se protestos, ameaças
e panfletos de toda a natureza. O partido dos mensaleiros convive mal com a
crítica e respeita, menos ainda, os preceitos da democracia e do Estado de
Direito. Contrariado, arreganha os dentes.
A peça que o relator Odair Cunha produziu para encerrar a CPI do
Cachoeira é o exemplo mais pronto e acabado disto. Sob orientação da cúpula do
PT, incluindo Lula e Dirceu, foi transformada numa arma contra todos os que, de
alguma maneira, se interpuseram no caminho do partido e suas negociatas: o
Ministério Público, a imprensa independente, políticos que não abaixaram a
cabeça para o lulismo.
Num balé ensaiado, os próceres do PT agora articulam levar estudantes às
ruas, insuflar a militância e realizar atos em defesa dos mensaleiros
condenados à cadeia, como o que um tal Fórum do Diálogo Petista está convocando
para amanhã em São Paulo, como informa a Folha de S.Paulo.
Sempre com Dirceu à frente (enquanto ele não começa a cumprir seus 10
anos e 10 meses de cadeia...), os petistas vão montando sua agenda do
esperneio. Nesta semana, o chefe da quadrilha do mensalão passou por Brasília e
arregimentou apoios - alguns meio envergonhados, como mostrou O Globo - entre a
bancada do PT no Congresso para sua sanha revanchista.
Ele também cobrou atitude dos presidentes da UNE e da UJS, que, junto
com a Juventude do PT, agora prometem organizar os mesmos atos em defesa dos
mensaleiros que haviam ameaçado realizar durante o julgamento do Supremo, mas
não fizeram. Provavelmente, o ex-ministro lhes intimidou com a possibilidade de
cortar-lhes a mesada...
Felizmente, não há o menor clima no país para acolher os protestos
petistas. Pelo contrário: o ambiente está é para saudar a mudança de ares que o
julgamento do mensalão marca na trajetória do país e a simbólica chegada do
ministro relator do caso, Joaquim Barbosa, à presidência da mais alta corte de
Justiça brasileira. Nunca foi tão patente a distinção entre de que lado está o
que de melhor a sociedade pode ter e aquilo que ela deve, de uma vez por todas,
destinar ao lixo da história.
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