Publicado no Correio Braziliense – 24-01-13
Apesar das reiteradas, promessas do Banco
Central de que a inflação está sob controle, o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que os preços estão em disparada, e o
orçamento das famílias, correndo perigo. A prévia do indicador oficial do custo
de vida no país, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo — 15 (IPCA-15), atingiu
0,88% em janeiro, superando a projeção média do mercado, de 0,82%, e o 0,69% de
dezembro de 2012. Pior: no acumulado de 12 meses, a taxa cravou alta de 6,02%.
Foi a primeira vez, em um ano, que o índice passou de 6%, mostrando que, em vez
de convergir para o centro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%, a inflação está
caminhando rapidamente para o teto, de 6,5%.
Os especialistas classificados pela presidente
Dilma Rousseff de pessimistas alertaram que, quando anualizado, o IPCA-15 de
janeiro, de 0,88%, mostra uma inflação de 11%. Desde 2004, não se via um índice
projetado para o espaço de um ano acima de dois dígitos. Mas não é só. Segundo
o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, 73,7% dos
preços estão em alta. Foi
a primeira vez, desde junho de 2008, que o indicador de difusão, como
classificam os analistas, rompeu os 70%. Como não vê um movimento de recuo
nesse processo de disseminação de reajustes, ele aposta que o IPCA fechado
deste mês poderá cravar 1%.
“Qualquer que seja o ângulo para que se olhe, o
resultado do IPCA-15 foi muito ruim”, destacou Leal. “Portanto, não podemos ser
otimistas com o resultado final da inflação de janeiro, que deverá ficar entre
0,95% e 1%, o que levará a taxa acumulada em 12 meses para algo entre 6,25% e
6,30%”, emendou. Ele reconheceu, porém, que o BC já havia advertido que a alta
do custo de vida seria mais forte a curto prazo. O problema é que ninguém
acredita que o IPCA cederá na velocidade esperada pela autoridade monetária,
que aposta em inflação de 4,8% em 2013. O descrédito no BC só faz aumentar.
Em Davos, na Suíça, o presidente do Banco
Central, Alexandre Tombini, disse que não há porque o mercado desconfiar do
compromisso da instituição de levar a inflação para a meta até o fim deste ano.
Ele garantiu que o governo não abandonou os instrumentos tradicionais para
manter os preços nos eixos. “O Banco Central está vigilante e vai fazer o que
tiver de fazer para controlar a inflação no Brasil, como foi o caso nos últimos
nove anos”, prometeu. “Podemos fazer melhor, queremos fazer e vamos fazer”,
garantiu. Hoje, o Comitê de Política Monetária (Copom) divulgará a ata de sua
reunião na semana passada, na qual manteve a taxa básica de juros (Selic) em
7,25% ao ano. Há o temor de que o BC reforce, no documento, a temida leniência
à inflação.
A inflação de serviços também superou as
expectativas dos analistas e registrou 1,06% em janeiro, o pior desempenho para
um mês desde 1997 (excluindo fevereiro por conta das mensalidades escolares e,
por isso, considerado um ponto fora da curva). Flávio Serrano, economista
sênior do Espírito Santo Investment Bank, classificou de assombroso o aumento
do IPCA-15 do mês. “O 0,88% só reforça a percepção de que a inflação está cada
vez pior”, declarou. “Além dessas surpresas negativas, alguns itens chamaram a
atenção, sendo que nenhum deles representa uma boa notícia para o BC. Os
automóveis novos já começaram a mostrar o impacto do fim da redução do IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados)”, ponderou Leal. O grupo transportes,
com o término do benefício, apresentou elevação de 0,68% em janeiro.